O debate se realiza em um momento de excepcional crescimento econômico e de extraordinario dinamismo das exportações, que entre 2005 e 2012 cresceram em 16% no acumulado anual. Segundo as exposições da oposição parecería que estamos vivendo uma etapa de crise e de paralisia do nosso comercio exterior.
Dois elementos introdutórios ao debate: neste mundo globalizado não existe liberdade de comércio e os atuais países desenvolvidos foram extremamente protecionistas, o que lhes permitiu alcançar seus níveis atuais. Na década de 90, sob o predomínio do Consenso de Washington, os países da foram obrigados a eliminar ou limitar seus controles de capitais e de importações, entanto eles mantiveram seus subsídios à produção e exportação agrícolas e os diversos mecanismos de proteção às importações. Por outra parte, países como os EUA, Alemanha e Japão, como principais exemplos, foram muito protecionistas para se desenvolverem. Isto significa que para exportar rubros que não fossem commodities são necessárias negociações e acordos. Neste caso, as relações com o poder passam a ter um papel muito relevante.
Na atualidade, os EUA mantêm uma hegemonia militar e comunicacional e inclusive um predominio financeiro, mas compete no plano comercial com a China. Nos próximos anos, o 60% do consumo mundial virá da Asia-Pacífico, sendo atualmente a China o primeiro exportador de bens e produtos manufacturados. EEUU impulsiona a transpacífico e China a aliança compreensiva onde estão a China, India, Coréia do Sul, Austrália e Nova Zelanda entre outros. A competiçao comercial entre os Estados Unidos e a China é muito nítida. Na América do Sul, a estrategia comercial dos EUA, desde a década de 90, consistiu em impulsionar a ALCA que fracassou e logo os tratados de livre comércio onde ele mantêm suas políticas de subsidios aos produtores e exportadores agrícolas, as cuotas, os contingenciamento, os extremos tarifários e as medidas antidumping como elementos de proteção. Por su parte, exige a liberação de bens e serviços, compras governamentais, normas de competitividade e propriedade intelectual. É importante assinalar que o estratagema comercial dos EUA não é independente do seu estratagema comercial, comunicacional e financeiro. O dinamismo da China nos últimos anos gerou importantes aumentos dos preços internacionais dos productos de exportação dos países da América da Sul, que facilitaram altos níveis de cescimento econômico. Na atualidade, a China é o principal comprador do Brasil, Chile, do Paraguai e o segundo comprador do Perú, Argentina e Uruguai. Por isso é que afirmamos enfaticamente que, na atualidade, desde o ponto de vista comercial, para a América do Sul, a China é mais importante que os EUA.
Para a América do Sul, a estratégia nao pode ser estar com os EUA e contra China, nem com a China e contra os EUA. A estrategia é assegurar os interesses comerciais da nossa região. Isto significa unidade regional, de propostas, de ação, para ganhar poder de negociação com o mundo desenvolvido, no plano comercial, financeiro e produtivo. Unidade para construir o desenvolvimento dos nossos países. Uruguai não pode ficar isolado nem sozinho. É natural que seja integrante da unidade regional. Para negociar com os EUA, com a União Européia, com a China, para conseguir uma correta inserção internacional não só com commodities, senão com que fundamentalmente com produtos e serviços que tenham um maior valor adicional e avanços significativos nos conteúdos tecnológicos. Para enfrentar as velhas relações Centro-Periferia que, inclusive, sao concretizadas nas relações comerciais com a China a quem exportamos produtos primários derivados de nossos recursos naturais e compramos produtos manufaturados com um elevado conteúdo tecnológico e alto valor agregador.
Uruguai vive uma etapa esplêndida em seu comércio exterior, já que suas exportações entre 2005 e 2012 cresceram um 16% anual acumulativo. Colocaram-se em mais de cem (100) mercados de destino e surgiram novos bens de exportação como a soja, os derivados da florestação, os serviços não tradicionais que aumentaram em 22% anual entre 2007 e 2012, e proximamente será incorporado o ferro que passará a ser o primeiro produto de exportação. Cabe assinalar especialmente os importantes aumentos de produtividade em toda a economia e especialmente nos principais ítens de exportação. Os objetivos centrais da inserção internacional deveriam buscar aumentar o valor agregado e incorporar bens e serviços com alta e meia teconologia, em um mundo internacionalizado onde o conhecimento, as innovações e as incorporações tecnológicas pesam. Para isto é fundamental a complementariedade produtiva, a complementariedade industrial que é um dos grandes desafios do Mercosul. É muito difícil a complementariedade com a China, com os EUA, com a União Européia e inclusive com os paises sulamericanos da costa do Pacífico. É mais simples com nossos vizinhos mais próximos, Argentina e Brasil.
O Mercosul não está nem destroçado nem paralizado. Continua sendo o primeiro comprador do Uruguai, liderando o Brasil como primeiro país comprador, em uma etapa de extraordinário dinamismo das nossas exportações. Também é ao Mercosul a quem vendemos mais de dois terços de produtos manufaturados e quase um terço de rubros de alta e meia teconología, três vezes mais que ao resto do mundo. Na atualidade temos excelentes relações com o Brasil, que é quêm vai nos vender energía elétrica ao mesmo preço a que se cobraria se fôssemos um Estado brasileiro. Continuam chegando investimentos estrageiros ao Uruguai, sendo as principais aquelas provenientes da Argentina e desde a China que chegam para colocar seus produtos no Brasil. Temos dificuldades com a Argentina e não sabemos o que aconteceu em matéria comercial nas conversações comerciais na última Cúpula do Mercosul em Montevidéu (27 e 28 de junho de 2013).
A Aliança do Pacífico conta com um poderoso marketing proveniente dos Estados Unidos e dos grandes meios de comunicação. Pelos acordos do Mercosul, podemos ser observadores mas não membros plenos sem autorização do bloco. Não nos corresponde criticar a Argentina quando viola os tratados se o Uruguai também o faz ao tentar ingressar nessa Aliança. Pela via da Aladi já temos 100% de preferências tarifárias do Chile, 98% do Perú, 94% do México e 86% da Colômbia. Apesar destas preferências e do TLC com o México e o Chile, só exportamos um 6% do total das nossas vendas externas a esses mercados. O mais relevante para esses mercados é não apresentar a Aliança do Pacífico como contraditória ao Mercosul. Desejamos que sejam complementários para assim poder avançar à unidade regional. É assim que se apresenta por essa via a entrada ao Transpacífico, onde estão os EUA mas não está a China, nosso principal comprador, nem a Índia, nem a Coréia do Sul. Insistimos, a estratégia do Uruguai e da região é defender nossos próprios interesses, negociando com todos os países que seja necessário, mas não ficando subordinados aos Estados Unidos nem à China. Este é o grande desafio de nossa inserção internacional e do futuro da integração da América do Sul. Sem lugar a dúvidas, o papel do Brasil é e será central.
Por Alberto Couriel
Parlamentar do MERCOSUL e Senador da Frente Ampla (Frente Amplio), Uruguai