Agência PARLASUL (17/09/2025). No Dia Internacional da Democracia, o Parlamento do MERCOSUL (PARLASUL) realizou sua IV Sessão Especial com a presença da economista chilena Marta Lagos, Diretora do Latinobarómetro. A convidada apresentou dados e reflexões que suscitaram amplo debate entre os parlamentares, reforçando a importância de divulgar o trabalho realizado pelo instituto e de estudar a possibilidade de firmar um convênio de cooperação.
A Diretora do Latinobarómetro, destacou que a democracia latino-americana nasceu “com valentia e apenas sustentada pela vontade de liberdade”. Segundo ela, foi um equívoco acreditar que o autoritarismo seria erradicado por decreto ou que a democracia teria um processo linear até chegar ao modelo liberal. “Apesar de uma década de retrocesso, a democracia demonstrou capacidade de recuperação”, afirmou, lembrando que 42% dos países da região ainda vivem sob ditaduras ou sofreram tentativas de golpe de Estado.
A Diretora também alertou que jovens e populações vulneráveis mostram indiferença diante da democracia, pois enfrentam urgências sociais que os governos não conseguem atender. “Na América Latina, a crença na democracia baseada em liberdades civis e políticas permanece, apesar das respostas frágeis ou ausentes dos governos”, declarou.
As intervenções dos parlamentares refletiram a preocupação com os desafios contemporâneos da democracia na região. O Parlamentar Heitor Schuch (Brasil), relacionou o tema ao debate sobre soberania e desenvolvimento: “Temos em nosso subsolo uma série de materiais do Brasil com usos tecnológicos. E tudo isso está hoje em uma grande disputa no mundo inteiro. Precisamos começar a ter muito cuidado em relação ao destino de tudo isso, porque está diretamente ligado à soberania nacional, ao desenvolvimento do país e às possibilidades de produzir novas tecnologias.”
Na mesma linha, a Parlamentar Cecilia Nicolini (Argentina) defendeu a construção de uma estratégia comum para a gestão dos recursos naturais: “A ideia é trabalhar em um roteiro, um plano estratégico para algo tão fundamental como decidir com autonomia o que fazemos com nossos recursos minerais. Temos uma grande oportunidade, mas queremos que essas oportunidades se traduzam em ações concretas para pensar em um desenvolvimento sustentável para nossa região, para nossos países, para nossos povos.”
O Parlamentar Arlindo Chinaglia (Brasil) ressaltou que, em muitos países da região, a baixa confiança nas instituições representativas ameaça a estabilidade democrática. “É necessário afirmar a defesa de uma democracia radical, que incorpore participação social permanentemente e que enfrente as desigualdades”, afirmou. O levantamento do Latinobarómetro de 2024 indica que o apoio à democracia cresceu quatro pontos percentuais, alcançando 52% da população, interrompendo uma tendência negativa que vinha desde 2010. No entanto, os dados também mostram um cenário marcado por desigualdade, insegurança pública e descrédito das elites.
O Parlamentar Gustavo Arrieta (Argentina) alertou para retrocessos políticos em seu país: “Hoje, na Argentina, não estamos na melhor das situações, com a líder do principal partido político da oposição detida. Trata-se claramente de uma proscrição judicial disfarçada de processo legal.”
Na mesma linha de reflexão, o Parlamentar Franco Metaza (Argentina) reforçou: “Como disse a senhora Marta Lagos, a democracia está em tensão no mundo inteiro, não está dando as respostas que as sociedades demandam e parece não estar à altura do século XXI. Nosso bloco é uma aliança política que é regida pela democracia, que plasmamos no Protocolo de Ushuaia de 1998.”
Por sua vez, a Parlamentar Marina Femenía recordou que “Nosso Protocolo de Ushuaia consagra a democracia como uma condição essencial para a integração, mas hoje essa condição está sob o assédio de um novo tipo: já não são os tanques nas ruas, e sim a guerra jurídica, ou lawfare.”
A Sessão Especial reforçou o compromisso do PARLASUL com a defesa da democracia na região e destacou a necessidade de ampliar o diálogo entre parlamentos e sociedade. As reflexões de Marta Lagos, somadas às intervenções dos parlamentares, ofereceram insumos valiosos para compreender os desafios atuais e futuros, reafirmando que a proteção da democracia é uma tarefa permanente e coletiva.