Agência PARLASUL (04/05/2021). Nesta terça-feira (04) a Comissão de Assuntos Econômicos da Assembleia Parlamentar Euro-Latinoamericana (EuroLat) debateu sobre “A recuperação econômica e comercial na pós pandemia de COVID-19”. Participaram Parlamentares da União Europeia e da América Latina e do Caribe.
O intercâmbio contou com as participações especiais de Daniel Titelman, Diretor da Divisão de Desenvolvimento Econômico da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL); Kathleen van Brempt, Deputada do Parlamento Europeu (Socialistas e Democratas, Bélgica), da Comissão de Comércio Internacional sobre 'Aspectos comerciais e implicações de COVID-19'; e de Alán Fairlie, Deputado do Parlamento Andino (PARLANDINO), Peru).
Inicialmente, Daniel Titelman declarou que a “América Latina enfrenta uma realidade muito complexa, antes da pandemia o crescimento era quase nulo e a pandemia empurrou a região a uma contração considerável”, enfatizando que a pobreza passou de 30% em 2019 a 33% nos dias atuais e a pobreza extrema passou a 12%.
Titelman ressaltou os danos causados pela pandemia, como “a desigualdade que aumentou e as taxas de desemprego também aumentaram''. Especialmente o desemprego feminino aumentou muito. São ao menos 10 anos de retrocesso. Somente em 2023-2024 se consolidará a recuperação da região. Devemos ter uma perspectiva estratégica do investimento público de forma que o mesmo produza desenvolvimento e que proteja a população e as pequenas empresas com igualdade de gênero.”
A Euro-deputada Kathleen van Brempt explicou que a “ Comissão de Comércio discute um informe sobre o impacto da pandemia. Antes da pandemia, as regiões estavam em uma encruzilhada e ainda mais depois da pandemia. O pacto verde europeu é fundamental para que o comércio seja sustentável e positivo para todos. Devem haver cadeias de valor justas e resilientes e é necessário evitar especulações sobre os preços”. Sobre o acesso às vacinas, a eurodeputada afirmou que “os países europeus produtores de vacinas têm trabalhado de forma pouco transparente. Há nacionalismo nas vacinas e é preciso mudar a narrativa. Os tratamentos devem ser acessíveis para todos. É necessário levantar barreiras e peço à União Europeia que seja possível eliminar o sistema de patentes, assim o mundo poderia ter acesso às vacinas."
Em seguida, o integrante do PARLASUL, Alejandro Karlen (Argentina) declarou que “este problema deve ser resolvido em conjunto. É preciso tomar um rumo diferente, o mecanismo COVAX fracassou. A gravidade da situação implica que devemos seguir tendo cuidados e que a recuperação será lenta. De forma imediata poderíamos resolver muitos problemas com a liberação das patentes das vacinas." pontuou.
Finalmente, a Euro-deputada Maria Leitão Marques enfatizou o papel da luta contra as desigualdades, destacando que "a vacina contra as desigualdades deve ser o nosso foco. No que se refere às relações digitais, é necessário aproveitar esta oportunidade para trabalhar na integração de nossas economias. Temos que trabalhar no acesso universal à internet e à capacitação das nossas populações, para que a transição digital siga sendo inclusiva, e que nossas economias sejam o carro chefe deste trem”.
Os convidados para este debate coincidiram na necessidade de trabalhar e aprofundar a luta contra as desigualdades de todo o tipo, na necessidade de desenvolver estratégias de prevenção e resposta diante de futuras pandemias, assim como repensar a sustentabilidade em todos os níveis de relações internacionais, comerciais e sociais.
Encontro da EuroLat com a Sociedade Civil
Durante o turno da tarde, foi realizado o Encontro da EuroLat com a Sociedade Civil. O tema da atividade foi a pandemia, o impacto e o papel da sociedade civil europeia e da América Latina.
Para o Presidente do Comitê de Seguimento da América Latina, Comitê Econômico e Social Europeu (CESE), Josep Puxeu, “a COVID devastou todas as regiões mas impactou de forma mais intensa a América Latina.” Segundo ele, “é momento de atuar. Entendemos que o mecanismo COVAX é lento e faz falta que chamemos a atenção e passar aos fatos."
Por sua vez, o Docente da Universidade Nacional de San Martín, Federico Rossi, destacou a importância de medidas como a adoção do imposto sobre as grandes fortunas adotado na Argentina e que “os movimentos sociais se organizam e buscam lidar com a incerteza e aceleração dos acontecimentos e a pandemia intensificou a polarização política. É importante a disputa de ideias que predomina em cada contexto nacional para enfrentar a pandemia e apresentar uma resposta pós pandemia.”
Sobre o papel da sociedade civil, a Professora de Ciência Política da Universidade de Brasília, a brasileira Rebecca Abers, informou que no Brasil o segmento trabalhou “não apenas contra a pandemia mas também contra o negacionismo e na distribuição de alimentos, gerando mais de 1400 iniciativas de solidariedade."
Em seguida, a Representante da Rede EU- LAT, Rosa Llobregat, ressaltou a preocupação com o enfraquecimento das democracias e o impacto da pandemia de COVID-19 evidenciando as desigualdades e a falta de políticas públicas. Segundo ela, “é o momento de apostar no papel público e intensificar o processo de vacinação com uma distribuição equitativa. As vacinas devem ser um bem público universal.”
Para a Parlamentar do PARLASUL, Julia Perié (Argentina),“a sociedade civil sempre é protagonista no mundo inteiro. Vemos em países que enfrentam crises profundas como o caso da repressão que ocorre na Colômbia.” Perié também fez menção ao Fórum de Mulheres da EuroLat e fez um convite a que a sociedade civil também faça as suas contribuições através deste foro.