AGÊNCIA PARLASUL - Nesta quarta-feira (23/09), o Parlamento do MERCOSUL, a Equipe Interdisciplinar Transfronteiriça com Perspectiva de Gênero e a Equipe Latino-Americana de Justiça e Gênero (ELA) realizaram em conjunto o webinar "Violência Política na Região contra Mulheres e Dissidentes" com o objetivo de gerar um espaço de visibilidade e intercâmbio sobre a violência política e comunicacional em diferentes cenários da América Latina.
O Presidente da PARLASUL, Oscar Laborde, abriu o evento saudando a criação de instâncias de diálogo para viabilizar e fortalecer redes regionais de mulheres, gêneros e diversidades. Para o Presidente, “é preciso apontar a coincidência da violência política contra mulheres e dissidências com a diminuição da democracia na região”.
Em seguida, a Parlamentar argentina Cecilia Britto destacou a necessidade de enriquecer o debate e promover espaços para trabalhar ações concretas contra a violência e promover ações que garantam uma participação política plural, substantiva e diversa. “Esperamos que possamos continuar costurando redes invisíveis que cruzem nossos partidos e nossas ideologias na questão de participação, gênero e dissidência”, disse ela.
Por sua vez, a Diretora Executiva da ELA, Natalia Gherardi, deu início aos trabalhos do Painel sobre Violência Contra as Mulheres na Esfera Política e suas Formas a Partir das Perspectivas e Relatórios da ELA e ETI. Em sua apresentação, a Diretora apresentou uma investigação sobre a violência política contra a mulher, destacando que “a abordagem de gênero e interdisciplinaridade é fundamental para o enfrentamento deste tema, bem como o reconhecimento da transversalidade dos fatos que constituem a violência contra as mulheres na política."
A pesquisadora da ELA, Ximena Cardozo, apresentou um estudo sobre a violência política contra as mulheres nas redes sociais. De acordo com as conclusões do informe, 54% das agressões contra as mulheres argentinas são distribuídas em expressões discriminatórias, 39% estão ligados a papéis e mandatos de gênero, 34% com desprezo por habilidades e 27% com alusões a seus corpos ou sexualidade.
Para a Parlamentar argentina Cecilia Britto, “estamos constantemente falando sobre violência contra mulheres e dissidentes, mas ainda não havia chegado o momento de abordá-la a partir de uma investigação como agora”.
Na mesma linha, a comunicadora Gabriela Ayala apresentou um estudo sobre a violência na comunicação destacando que “as fakenews, para atacar a credibilidade contra as mulheres, procuram atacar desde o lado pessoal e familiar”.
Em relação aos dados estatísticos sobre estereótipos na participação política, a psicóloga Emília Lunge destaca que “um homem sem graduação acadêmica tem 50% mais chances de chegar ao parlamento do que uma mulher com graduação”.
Posteriormente, iniciou-se o terceiro painel da atividade Gênero e Violência na América Latina com a participação de representantes de diversos países da região.
A Vice-governadora da Província de Misiones, Sandra Daniela Giménez, iniciou a mesa destacando que “a organização social, a democracia e os processos de construção de soluções deverá vir de nós mesmas”.
Julia Argentina Perié, Parlamentar argentina do MERCOSUL e EUROLAT, complementou a abordagem sobre os desafios enfrentados pelas mulheres na política. Para a parlamentar “quando se fala da dor de ser perseguida politicamente e de ser maltratada, fala-se também de outra dor de ver quem acreditamos estar do nosso lado não estar. Mas a luta continua. "
Para a representante do Equador, a Parlamentar Presidente da Comissão para a Mulher e Igualdade de Gênero do Parlamento Andino, Pamela Aguirre Zambonino, “seria impossível estarmos nas listas dos partidos políticos se não fosse pelas leis de cotas. Nunca fomos levadas em consideração nesses espaços de representação.”
A Parlamentar argentina do PARLASUR, Fernanda Gil Lozano, manifestou sua concordância com a parlamentar Pamela, acrescentando que “a formação de partidos políticos é uma ideia de poder patriarcal”.
Por sua vez, a Parlamentar argentina do PARLASUR, María Luisa Storani, fez uma abordagem histórica sobre o desenvolvimento da participação política das mulheres na Argentina até os dias atuais. Para o parlamentar, “no parlamento, todos os olhos estão voltados para as mulheres. Todos os olhos enxergam cores de mulher. "
Representando a Bolívia, a Parlamentar do PARLASUR Benita Díaz Pérez, advertiu que “o principal desafio que devemos enfrentar é levar todos os nossos discursos da teoria à ação. Às vezes é muito fácil falar sobre sororidade e compromisso com nossas colegas. Mas, quando se trata da prática, uma série de fatores culturais e sistêmicos estão envolvidos."
Do Paraguai, a Senadora Esperanza Martínez expôs a necessidade de resistir na política. Para a senadora, “nenhum de nós deixa de ter uma experiência negativa no sentido de enfrentar situações extremamente desagradáveis, que se fazem necessárias. Porque, do contrário, estaríamos voltando à nossa casa e deixando espaço livre para os nossos colegas, que é o que eles querem que façamos. "
Em relação ao Uruguai, a Deputada Nacional, Bettiana Díaz, explicou como se relacionam as diferentes legislações de proteção social destacando que “no Uruguai, em 2017, aprovamos a Lei Integral da Violência contra a Mulher por motivo de Gênero, que inclui violência política e outras mencionados aqui pelos diferentes expositores."
A Diretora de Diversidade Sexual do Município de La Matanza, Florencia Guimarães expressou que “não posso viver em uma sociedade em que continuamos sendo comercializados e nossos corpos, subjetividades e territórios continuem sendo explorados. Uma das mais fortes violências políticas é a invisibilidade."
Dando sequência à atividade, a Parlamentar venezuelana do PARLASUL, Dennis Fernández, destacou o papel do Parlamento Regional. Para a Parlamentar, “o PARLASUL tem sido um fórum político muito importante para dar voz às mulheres e para divulgar a todos o que ocorre nos nossos países e, em muitas ocasiões, as denúncias relacionadas à violência de gênero”.
Para encerrar o Painel, a advogada paraguaia, especialista em Direitos Humanos da Mulher, Marcela Zub Centeno, destacou que “a América Latina está em segundo lugar em relação à média mundial de mulheres nos parlamentos com 31,1%. Isso não é por acaso. É porque hoje temos na América Latina e na região nove países com leis de paridade entre mulheres e homens.”
A seguir, o webinar contou com um painel sobre as "Vozes Políticas do Nordeste Argentino" com a participação de representantes dos parlamentos e ativistas dos municípios argentinos de Ruiz de Montoya, Misiones, Corrientes, Hipólito De Irigoyen, Aristóbulo Del Valle, 25 de maio, Almafuerte, Posadas, Colonia Wanda e San Antonio.
A Parlamentar Cecilia Britto encerrou a atividade e manifestou a intenção de realizar mais atividades em conjunto para lidar com as estratégias das mulheres para acessar os espaços políticos e enfrentar as barreiras invisíveis que existem na atividade política das mulheres.