Por Jean Wyllys.
Opinião Parlamentar (15/03/2018). No dia 14 de março a Vereadora Marielle Franco, foi brutalmente assassinada na cidade do Rio de Janeiro.
Marielle era uma mulher negra, da favela. Mulheres negras das favelas são a plena imagem da miséria e da marginalização por parte do Estado brasileiro. São as mulheres ignoradas pelo mercado de trabalho formal, relegadas ao subemprego e à exploração da força de trabalho. Vítimas da violência sexual dentro e fora do lar, cujas histórias viram, quando muito, estatísticas das secretarias de segurança pública. Mulheres negras das favelas morrem em clínicas de aborto clandestino, nas filas dos hospitais, arrastadas após cair dos porta-malas de viaturas, alvejadas em desastrosas operações militarizadas.
Marielle era uma mulher negra, da favela, e lésbica. Mulheres negras, lésbicas, das favelas, vivenciam as violências de gênero em um grau ainda maior. Morrem vítimas da lesbofobia, além de morrerem vítimas do feminicídio.
Marielle era uma lutadora pelos direitos humanos. O Brasil é hoje o país das Américas que mais mata defensores dos direitos humanos. Entre janeiro e agosto de 2017, foram 58 assassinados e assassinadas por conta de sua militância em defesa de comunidades ribeirinhas, indígenas, de pequenos agricultores sem terra, de pessoas sem teto, das mulheres, da comunidade LGBT, das pessoas em situação de rua, entre outros. Pessoas condenadas por lutar por justiça - uma luta que se choca com os interesses de certos grupos de poder, alguns deles bem representados no Congresso Nacional.
Na segunda-feira acordamos com a notícia da execução de Paulo Sérgio Almeida Nascimento, líder da Associação dos Caboclos, Indígenas e Quilombolas da Amazônia, que denunciava a contaminação dos rios por parte da Hydro Alunorte. Quando ainda nos dividíamos para tratar desta questão e pressionar o governo federal pela federalização das investigações, fomos surpreendidos pela execução sumária de Marielle Franco, voz das mulheres negras, das pessoas violentadas em ações policiais, e da comunidade LGBT das periferias do Rio de Janeiro, e de Anderson Pedro, que conduzia o veículo de Marielle.
Querem nos calar, mas ideias são à prova de balas. Não permitiremos que estas mortes fiquem impunes. Não aceitaremos que mais pessoas morram por fazer o bem ao próximo!
Foto: Mídia Ninja